1ª Aula - ORIGEM E INICIAÇÃO DA UMBANDA NO BRASIL



A Umbanda no Brasil, assim como o Candomblé, teve suas origens na África. De vários países deste continente partiram para cá, através de navios, os negros escravos, que trouxeram todo o conhecimento e a cultura dos rituais, cultos, danças e cânticos. Na época da escravidão, através da colonização branca dos europeus, estes escravos sofreram a proibição de cultuar suas origens e foram obrigados pelos seus proprietários a cultuar a religião cristã, frequentando os cultos católicos. Mas continuaram a cultuar secretamente suas crenças e origens. Foi através dos cultos cristãos que passaram a identificar os Santos católicos com seus Orixás.Assim sendo, quando rezavam em sua língua para Nosso Senhor do Bonfim, estavam cultuando Oxalá. A esta identificação se dá o nome de sincretismo religioso.
A união das duas bandas (Umbanda) respeita a riqueza do culto afro, representado no Candomblé, mas o referencial para o trabalhos umbandistas são apenas os sete principais Orixás ou vibrações originais, que representam também os sete planos vibratórios do universo.
Em 1908, no seio de uma família tradicional do Rio de Janeiro, ocorreu um fato que tomou aspecto sobrenatural. O jovem Zélio Fernandino de Morais, então com 17 anos de idade e que estava acometido de uma estranha paralisia que os médicos não conseguiam debelar, certo dia ergueu-se do leito e declarou: AMANHÃ ESTAREI CURADO.No dia seguinte, conforme havia declarado e apesar da medicina não ter conseguido explicar o ocorrido, Zélio levantou-se normalmente e começou a andar, como se nada antes lhe tivesse impedido os movimentos.Seus tios, que eram padres católicos, colhidos de surpresa e sem nada esclarecer, recorreram a um amigo da família que sugeriu que o rapaz Zélio fosse levado à Federação Espírita de Niterói, presidida na época por José de Souza.No dia 15 de novembro de 1908, o jovem Zélio Fernandino de Morais foi convidado a participar de uma sessão e o dirigente dos trabalhos determinou que ele ocupasse um lugar à mesa (tratava-se de um centro Kardecista).Após sentar-se, foi tomado por uma força estranha e superior à sua vontade e,contrariando as normas que impediam o afastamento de qualquer dos componentes da mesa, o jovem Zélio levantou-se e disse: AQUI ESTÁ FALTANDO UMA FLOR. Retirou-se da sala, voltando pouco depois trazendo uma rosa, que depositou no centro da mesa.Com esta atitude ele causou quase um tumulto. Restabelecida a corrente, manifestaram-se,em diversos médiuns da casa, espíritos que diziam ser de pretos escravos, de índios e caboclos. Eis que estes espíritos foram convidados a se retirar pelo coordenador dos trabalhos, advertidos do seu estado de atraso espiritual.Então o jovem Zélio foi novamente dominado por uma força estranha que fez com que ele falasse sem saber o que dizia. Ele ouvia apenas a própria voz perguntar o motivo que levava o dirigente do trabalho a não aceitar a comunicação daqueles espíritos e porque eram considerados atrasados.
Seguiu-se um diálogo acalorado e os responsáveis pela mesa procuraram doutrinar e afastar o espírito desconhecido que havia incorporado em Zélio.
Um dos médiuns videntes perguntou: por que o irmão fala nesses termos, pretendendo que essa mesa aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados, são claramente atrasados? E qual é o seu nome, irmão?Respondeu Zélio: se julgam atrasados esses espíritos dos pretos e dos índios, devo dizer que amanhã estarei em casa desse aparelho (Zélio) para dar início a um culto em que esses pretos e esses índios poderão dar suas mensagens e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou.Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados ou desencarnados.E se quiseram saber meu nome, que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim.Questionado com ironia por um dos médiuns, que lhe perguntou se achava que alguém iria assistir seu culto, respondeu o Caboclo das Sete Encruzilhadas: cada colina de Niterói atuará como porta voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei.
Em uma entrevista dada em 1975 à Revista Seleções de Umbanda, Zélio contou que se surpreendera ao ter dialogado com aqueles austeros senhores de cabeça branca, em volta da mesa onde se praticava um trabalho até então desconhecido para ele. E que com apenas 17 anos, como iria organizar um culto?Era uma sensação estranha, uma força superior que o impelia a fazer e a dizer o que nem sequer passava pelo seu pensamento.No dia seguinte, na casa da família, na Rua Floriano Peixoto, número 30, em Neves,RJ, já próximo às 20:00 horas, manifestou-se o Caboclo das Sete encruzilhadas, declarando que se iniciava naquele momento um novo culto. E que nesse culto, os espíritos de velhos africanos, que haviam servido como escravos e que, desencarnados não encontravam campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase exclusivamente para trabalhos de feitiçarias; e os índios nativos de nossa terra, poderiam trabalhar em benefício dos seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição social.A prática da CARIDADE, no sentido do amor fraterno, seria a característica desse culto, que teria por base o Evangelho de Cristo e como Mestre Supremo JESUS.Deu também o nome a esse movimento que se iniciava, chamando-o de ALLABANDA. Um dos presentes anotou o nome e, achando que não soava bem a sua vibratória, substituiu-o por AUMBANDHÃ, que se pode traduzir por DEUS AO NOSSO LADO ou O LADO DE DEUS.O termo final estabeleceu-se como UMBANDA e não AUMBANDA, provavelmente porque quem anotou o fez separando a primeira vogal da palavra, de modo a ficar A UMBANDA.A Casa dos Trabalhos Espirituais, que no momento se fundava, recebeu o nome de Nossa Senhora da Piedade, porque assim como Maria acolheu o FILHO nos braços, também seriam acolhidos, como filhos, todos os que necessitassem de ajuda e de conforto.Ditadas as bases do culto, o Caboclo passou à parte prática dos trabalhos, curando enfermos. Antes do término da sessão, manifestou-se um Preto Velho, PAI ANTÔNIO, que vinha completar as curas. Com o passar dos dias, enfermos passaram a ir à casa de Zélio em busca de cura e ali a encontravam, em nome de JESUS. Médiuns, cujas manifestações haviam sido consideradas como loucura, deixaram sanatórios e deram provas de suas excelentes qualidades mediúnicas.Estava criada a UMBANDA no Brasil.
Zélio Ferdinando de Morais desencarnou em outubro de 1975, aos 84 anos de idade, após ter fundado os sete Templos idealizados pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas. De seu trabalho resultou a UMBANDA de hoje.
A UMBANDA DE TODOS NÓS.